O Brulote, Terror no mar
Desde a Antiguidade, navios repletos de materiais inflamáveis eram incendiados e lançados contra alvos determinados constituindo uma espécie de “arma suicida”. Ao se chocar com outros barcos ou construções, seus efeitos costumavam ser amplos e devastadores. Ainda que extremamente perigosos, os brulotes foram diversas vezes utilizados em batalhas navais, sendo considerado muitas vezes um armamento determinante para a sorte destas. Durante a Idade Moderna (1453-1789), com o amplo emprego da pólvora, foram adaptados para explodir em decorrência de fortes abalroadas ou, raramente, de flechas em chamas ou armas de fogo.
Em contrapartida, tal espécie de navio possuía elevado custo e grande dependência do vento por não possuir timoneiro (condutor) em seus momentos finais. Para o brulote ser utilizado com eficiência, a corrente de ar tinha de estar adequada (favorável à incursão e forte o suficiente para impetrar velocidade), ao ponto que só poderia ser incendiado quando relativamente próximo ao alvo, para maior garantia da manutenção do curso. Além de se atingir o objetivo, essas técnicas visavam evitar um indesejável acidente caso retornasse ao seu lançador. Ainda, o navio era um instrumento de manipulação delicada (principalmente quando armados com explosivos): poderiam explodir acidentalmente se as regras de segurança não fossem seguidas à risca.
O brulote militar caiu em desuso em meados do século XIX, quando as consequências da revolução industrial começaram a se fazer sentir na indústria naval. Basicamente, três motivos ensejaram sua aposentadoria: primeiro, o surgimento de modernas embarcações compostas ou revestidas por metal; segundo, na terra ou no mar, a artilharia foi significativamente aperfeiçoada e garantiu a eliminação da ameaça à distância segura; e terceiro, os navios velozes e as técnicas de navegação possibilitaram a esquiva da fúria cega em chamas.